São Francisco de assis - Sanga do Café

São Francisco de assis - Sanga do Café

Na década de 1920 começou a se consolidar uma pequena comunidade de famílias de origem luso-brasileira e italiana na localidade que os antigos tropeiros e carreiros que por ela passavam, chamavam com o singular nome de Sanga do Café, devido ao riacho que atravessava essa região, e que apresentava uma coloração turva, fazendo lembrar a cor do café. Por décadas, e apesar do crescimento da população e o desenvolvimento da localidade, as famílias católicas não possuíam uma capela para os serviços religiosos. Se deslocavam alguns quilômetros até a igreja da vizinha Sanga do Engenho, para participar da celebração dos cultos dominicais. Em 1953, inaugurou a primeira escola da Sanga do Café. O educandário, pequeno e construído em madeira, começou a funcionar sob a direção da professora Augusta Vitali, a primeira professora e destacada pedagoga e educadora. Por algum tempo, a escola também foi utilizada para o ensino da catequese para as crianças.

Dona Augusta, que participara dos Grupos das Filhas de Maria e Apostolado da Oração, foi também a primeira catequista da Sanga de Café e a primeira ministra da eucaristia. Na década dos anos setenta, a comunidade começou a se manifestar a favor de ter sua própria capela. Iniciou-se uma campanha para arrecadar fundos. Dois vizinhos, o senhor Antônio Dondóssola e o senhor Mário Vitali, ofereceram doar o terreno para a construção. Mediante uma votação, foi escolhido o terreno deste último, onde foi erguido o templo. Logo começou a campanha para arrecadar fundos. As famílias que plantavam fumo, por exemplo, doavam uma “Estufada de Fumo” para a construção da igreja, e, a câmbio, o padre celebrava uma missa nas suas residências. O senhor Mário Tiscoski, aderente à causa, doou a estátua do santo padroeiro São Francisco de Assis. A obra foi trazida de Mogi Mirim, no estado de São Paulo. Muitas pessoas fizeram doações em dinheiro. Fizeram-se festas comunitárias, onde os fabriqueiros realizavam sorteios e leilões. A lista com os nomes dos ofertantes foi colocada numa urna junto aos fundamentos do altar. Como a paróquia Sagrado Coração de Jesus de Forquilhinha estava sob a direção da Ordem dos Franciscanos, e até o momento não havia nenhuma capela dedicada ao santo de Assis, a comunidade de Sanga do Café concordou em erguer o templo sob a avocação de São Francisco de Assis, cuja festa é realizada no dia 4 de outubro.

A senhora Maria Abigail Savi Donida lembra que: “Nossa igreja foi inaugurada em 1978. Foi um grande acontecimento para todos nós. Eu estava grávida e lembro até do vestido que usei nessa oportunidade. O primeiro batizado na igreja, meses depois, foi o de meu filho Rodrigo. Ainda a igreja não estava toda concluída” (1)

De fato, a capela foi inaugurada quando ainda tinha alguns detalhes importantes da construção e ornamentação para serem concluídos. Aos poucos, sob a direção dos diversos integrantes da CAEP e a ajuda e colaboração dos vizinhos, o templo foi tomando forma definitiva.

O senhor Pedrinho Donida e sua esposa Maria Abigail Savi, antes citada, relatam dados importantes dessa etapa: “As pessoas que participaram da comissão fizeram muito para terminar a construção. Lembro de Irio Manente que conseguiu colocar o piso da capela; Donato Pirola que se encarregou do forro; seu Bonifácio Semler que conseguiu terminar o presbitério e Luiz Giácomo Dondossola que finalizou a sacristia.  Uma nota de cor, foi justamente a discussão pela “escolha da cor” que seria pintada a parede do altar. A discussão começou porque o Frei Teodoro, um sacerdote com muito carisma, mas detentor de certa teimosia “germânica”, queria pintar a parede de uma determinada cor, enquanto que seu Irio Manente, um vizinho muito estimado por todos, mas possuidor de certa teimosia “italiana”, queria pintar de cor azul. Não foi fácil chegar a um acordo, ambos não eram pessoas de ceder posições numa discussão. Depois de muito discutir, e talvez, pela intercessão do próprio São Francisco, Frei Teodoro cedeu e a parede foi pintada de azul como seu Irio queria”. (2) Relatos como aqui citados nos ajudam a compreender a relevância que tinha para a comunidade ter seu próprio templo. Pequenos atos ou situações que hoje, talvez, possam parecer menores, como a escolha da cor para pintar o altar, em realidade, eram muito importantes para cada participante da comunidade. 

Ter uma igreja ia além da possibilidade de poder participar dos cultos e dos sacramentos, e de expressar a religiosidade individual. Ter uma capela era uma maneira de se integrar ao conjunto da comunidade também do ponto de vista espiritual e religioso. Além de ser um espaço físico, um lugar sagrado, a capela era, e continua sendo, o principal ponto de referência social, onde se compartilha com a comunidade todos os momentos importantes da vida: o nascimento, o casamento, e até o luto. O senhor Pedrinho Donida explica: “Todos os envolvidos se preocuparam para que a capela fosse uma obra importante. A cruz do altar foi feita com madeira, que fomos puxar do mato de Guerino Minato. É de madeira chamada de “perobinha”, e foi serrada na casa de Bonifácio Back, que era marceneiro. A altura da peça é de aproximadamente 4,30 metros. Está fincada na base, a 1,20 metros de profundidade para se manter firme. A porta da capela, toda de madeira talhada, foi encomendada com um artesão de Araranguá.” (3) 

O sino para a capela foi cedido pela Igreja Matriz. Na época, havia-se comprado um sino novo para substituir um danificado, mas acabou sendo que não era do tom correspondente aos outros dois que a Igreja possuía. Por isso, a nova peça de bronze foi entregue à comunidade de Sanga do Café. O Sr. Irio Manente, contratou o Sr. Benvenuto Heerdt, que já havia trabalhado na Igreja Matriz, para instalar o sino na Capela de São Francisco. Explica o Sr. Benvenuto: “Eu fui chamado para colocar o sino na capela de Sanga do Café. Procurei o Sr. Sérgio Machado, torneiro de profissão, para preparar a ferragem necessária para sustentar a peça e elaborei um sistema similar ao instalado na Igreja Matriz, que funciona perfeitamente até hoje.”(4) Desde o início, a capela vem sendo centro da missão evangelizadora do catolicismo em Sanga do Café. Dona Maria Abigail Savi Donida relata: “Sempre tivemos pessoas voluntárias da comunidade, próximas aos ensinamentos da nossa Igreja, que se prontificaram para ensinar a catequese a nossas crianças ou para colaborar com aquilo que era necessário. Minha mãe, Augusta Vitali Savi, que foi a primeira professora e catequista, Vanda Maria Savi, Anita Borges, Jorge Pola, Maria Everalda Savi da Rosa, Teresinha Patrício Alexandre, dentre tantos outros.” (5)