Nas primeiras décadas do século XX, as famílias pioneiras, que habitaram o território do atual bairro Nova York formavam parte do grupo de colonos da vizinha comunidade de São Roque. Eram as famílias Dal Pont, Vassoler, Tomazi, dentre outras, que se dedicavam-se à produção agrícola.
O bairro surgiu nos primeiros anos da década de 1970, quando uma ampla área de cultivo foi disponibilizada para o loteamento chamado “Jardim Nova York”, empreendimento imobiliário que buscava satisfazer a demanda por moradia do crescente número de trabalhadores da atividade mineradora de carvão, na região circundante. Nesses anos, o loteamento ainda fazia parte do bairro Ouro Negro.
Os professores Zanelatto e Osório explicam que: “...as minas de carvão que iniciaram suas atividades entre o final da década de 1960 e início da década de 1970, fizeram com que o loteamento começasse a receber seus primeiros e mais novos moradores, senhor Donato Maicomim, senhor Brasílico Correa e senhor Valdemar da Silva. Ao chegarem e se instalarem no loteamento, os primeiros moradores tiveram que enfrentar muita dificuldade, pois ainda não havia uma rede de água...rede de esgoto, posto de saúde, escola...” (1)
Por vários anos a comunidade de Nova York manteve-se integrada à de Ouro Negro, ainda que era muito comum escutar, de maneira coloquial, a frase “a turma lá de cima”, fazendo referência aos moradores de Ouro Negro, em contraposição à “turma lá de baixo”, que correspondia aos moradores de Nova York.
A comunidade foi desde o começo bastante unida e ativa na hora de reivindicar seus direitos. Em 2003, o antigo loteamento alcançou a categoria de bairro.
Não passou muito tempo para que as famílias católicas manifestaram a necessidade de contar com um espaço próprio para a realização do culto dominical e das outras celebrações religiosas. Consequentemente, as principais lideranças locais organizaram uma comissão dedicada a levar adiante o projeto de construir uma capela.
As lembranças do seu Pedro
ma dessas lideranças comunitárias, o senhor Pedro Sebastião da Silva, relembra: “Eu cheguei no bairro, em 1987 ou 1988. Trabalhei na mina de carvão até me aposentar. Na mina CBS. Eu participava da comunidade, junto com outros amigos, Zé Martins, Adelino Mandelli, o “Nino”, o Arino Martins, o Donato Marcomin. O Donato era um italiano grandão. Um dia pensei que já era hora de nós ter nossa própria capela. A gente ia à missa “lá em cima”, na igreja São José, em Ouro Negro. Então eu disse, vamos fazer a igreja, aqui “em baixo”. Eu participava da comissão da igreja (a CAEP). Eu vou fazer. E a turma me perguntava: “Seu Pedro, é verdade que você está falando que vai construir uma igreja?”, e eu respondia: “Sim, vamos fazer com ajuda de Deus”. Um dia, até o padre, me perguntou também, “Vou fazer” disse pra ele, e ele ria. A turma “lá de cima” perguntava. Não botava muita fé nessa minha ideia. Alguns falavam: “Nunca que vai sair essa igreja”. A gente nunca desistiu. Éramos uma turma grande aqui “em baixo”, eu tomava a frente e todos colaboravam. Eu prometi para Deus que levantaríamos a igreja. E ficou uma igreja de dois pavimentos. Começamos a fazer festas para arrecadar dinheiro para construir a base, o primeiro pavimento. O terreno foi doado, onde agora se encontra o centro comunitário, a APAE, a capela.
Nas primeiras festas, colocávamos umas lonas para proteger as pessoas do sol. Todo o mundo colaborava. Dona Eva Elias, foi uma das pessoas que mais colaborava na equipe das mulheres. Eram muitas as mulheres que ajudavam na hora de fazer as comidas, de preparar as saladas, os doces. Estava também, Edna Cavaler, a Mercedes Fernandes. Eu organizei muitas festas, com Donato Marcomin, com Zé Martins. Nas festas, o encarregado do churrasco era seu Antenor e Pedro Bonfante que salgava a carne. Mas os homens todos ajudávamos. Nas primeiras festas, colocávamos lonas do lado do antigo Mercado Fernandes, que era do Everaldo Fernandes, que também sempre ajudava. E eram festas muito animadas, as pessoas participavam, vinha gente das outras comunidades. Havia música. Também fazíamos rifas. Eu sempre vendia muitos talonários. Os comerciantes do bairro ajudavam muito. Tempo depois, quando foi construído o centro comunitário as festas eram feitas aí.” (2)
Com os primeiros fundos arrecadados, começaram os trabalhos. A comissão da igreja, sob a direção do senhor Pedro Sebastião da Silva e outros vizinhos que o acompanhavam, conseguiu erguer a base, o primeiro pavimento da edificação projetada. Era uma obra de envergadura, uma estrutura importante, de dois pavimentos. O primeiro, um amplo espaço destinado à sala de reuniões, sala de catequese e secretária. O segundo, a própria igreja, que se destacava na altura. As vinculações políticas, sindicais, empresariais e com os comerciantes do bairro e do município ajudaram bastante na arrecadação de fundos, ainda que o aporte das famílias da comunidade fosse decisivo. Seguramente, alguns manifestavam certa dúvida sobre a realização da obra; de fato, o projeto era de envergadura, e, além de um orçamento importante, requeria o apoio sustentado, no tempo, da população.
Finalizada a primeira parte da construção, que totalizava o primeiro pavimento e a rampa e escadaria frontal, novamente a comunidade empenhou-se em concluir o pavimento superior. Pedro Sebastião da Silva, grande organizador do grupo de colaboradores voluntários, fez questão de não deixar passar o tempo para retomar o trabalho e concluir a capela. Sobre essa etapa, ele recorda: “Estava decidido a terminar a igreja. Conseguimos arrecadar o dinheiro necessário para concluir o segundo pavimento. Muitos trabalharam. Alguns doavam a mão de obra. Outros tijolos. Estava Zé Martins e seu filho Fernando. O João Teixeira, o famoso “João de Casca”. Também o Bonfante, o Antenor, o “Nino” Mandelli. Seu Arino Martins, que sabia trabalhar com madeira. Ele foi comprar a madeira. Não lembro agora o nome de todos. Mas muita gente colaborou. O santo padroeiro foi escolhido São Pedro. Eu mandei encomendar a imagem do santo. Ângela Boeira doou os pisos. Seu marido, Jorge Boeira, sempre ajudou bastante, para a igreja, e com recursos para o centro comunitário. Mandei colocar três carreiras de bancos. O sino. Mandei trazer o sino. Finalmente, conseguimos entregar a igreja completa. Graças a Deus.” (3)