Sagrado Coração de Jesus (Matriz) - Centro 

Sagrado Coração de Jesus

  A vintena de famílias de origem germânica que, a partir de 1912, formaram o núcleo central da colônia de Forquilhinha, constituíam, em sua maioria, a segunda ou terceira geração das famílias alemãs chegadas em Santa Catarina, na segunda metade do século XIX.  Em quase sua totalidade, seus antepassados eram originários da Westfália, da Renânia, da Mosela e do Hunsrück, das Dioceses de Münster e de Trier, e professavam o culto da Igreja Católica Apostólica Romana. É importante destacar que, desde seus inícios, a colônia de Forquilhinha fundamentou sua formação e desenvolvimento em três importantes instituições: a escola, a igreja e a família. (1)

O espaço geográfico da primitiva colônia começava na pequena “forquilha”, que resultava do encontro entre os rios São Bento e Mãe Luzia, e se estendia, por ambas margens desse último curso fluvial, em direção sul, até os limites da antiga Morretes, hoje Maracajá. O marcado empreendedorismo comunitário e o firme convencimento de considerar a família como célula básica da sociedade colonial, manifestavam-se, intrinsecamente, na delicada atenção que os colonos outorgavam à educação de seus filhos e à manifestação da fé religiosa. Porquanto, não há de estranhar que entre as primeiras providências surgisse a proposta de construção de uma escola e de uma capela.

A primeira tentativa para construir uma igreja foi em 1913. Houve tratativas com os colonos da localidade vizinha de São Bento Baixo, para erguer um templo que albergasse os fiéis das duas comunidades, mas o Pe. Miguel Giacca, vigário de Nova Veneza, desestimou a proposta.  Nos anos seguintes, entre 1917 e 1919, com a chegada de novas famílias à Forquilhinha, e o consequente aumento de sua população, a comunidade retomou a ideia de construir sua igreja, quando a pequena “Capela dos Italianos”, dedicada à padroeira Santa Bárbara, como já foi explicado no capítulo anterior, deixou de ser frequentada pelos colonos de fala alemã. Criou-se uma comissão para organizar os trabalhos: Gabriel Arns, Frederico Oderdenge e Bernardo Kesterling. Foram apresentadas duas propostas. A primeira, consistia na construção de uma capela pequena, um projeto arquitetônico simples e econômico. A segunda, era erguer uma igreja mais ampla, de estilo arquitetônico gótico, que representasse as origens culturais germânicas da colônia. Uma participativa votação decidiu pela realização da segunda opção. Dessa maneira: “No ano de 1920, quando quase nenhum dos colonos ainda possuía uma casa de material, a Comunidade de Forquilhinha construiu, para o Senhor, uma igreja, ampla, de alvenaria” (2)

Numa área de terra doada por João José Back, a igreja, com sua nave de 16 por 25 metros e sua torre de 25 metros de altura, foi construída exclusivamente com recursos dos colonos. Homens, mulheres e jovens colaboraram com os trabalhos do pedreiro-mor Luis Pratti, de Nova Veneza e o carpinteiro alemão, vindo da colônia de Anitápolis, Karl Volkmann. Este último destacou-se no difícil trabalho da armação para a cobertura da igreja e o tipo de arca da abóbada, previstos no projeto. O altar-mor em madeira de cedro, foi construído por José Niedermeier, um artesão de Armazém. Foram adquiridas três imagens sacras: o Sagrado Coração, São José e Nossa Senhora. A parede dos fundos, foi erguida de maneira provisória, prevendo um acréscimo futuro na construção. Sobre essa parede foi instalado o altar, respeitando o estilo gótico do templo. A igreja tinha uma porta principal no centro e duas portas laterais menores. “À direita da porta de entrada ficava a escada que dava para o coro, sustentado por duas colunas com vigas de madeira, uma apoiando-se sobre as colunas, e entre si ligadas até as paredes laterais.” (3)

   A Igreja Sagrado Coração de Jesus: “Foi inaugurada, por ordem do Arcebispo de Florianópolis, Dom Joaquim Domingues de Oliveira, pelo Vigário de Nova Veneza, Padre Miguel Giacca, uma semana antes da Primeira Missa solene de Frei Matheus Hoepers, no dia 19 de março de 1921...” (4) Para a comunidade de Forquilhinha a primeira missa foi um acontecimento histórico, pela possibilidade de assistir à Festa das Primícias de Frei Matheus Hoepers, um religioso familiar e afetuosamente relacionado aos colonos, escutar novamente, depois de tanto tempo, o sermão da missa em idioma alemão, e poder confessar também na língua materna de seus antepassados, que ainda era utilizada na comunidade. Frei Matheus era nascido na colônia de São Martinho do Capivari, de onde saiu muito jovem para entrar no seminário. Sua mãe, irmãos e outros parentes moravam agora em Forquilhinha.

  Além da tão desejada primeira missa, o padre realizou os primeiros batismos na comunidade. Entre as primeiras pessoas batizadas na comunidade, se encontrava o casal formado por Adolpho Tiskoski e Alvina Sauer, imigrantes europeus, que se assentaram em Forquilhinha alguns anos antes, precedendo a chegada das outras famílias de origem germânica: “No livro de Batismo da Igreja Sagrado Coração de Jesus, sob os n°s 82 e 83, respectivamente, consta o registro de Batismo de Adolpho Tiscoski e Alvina Sauer no dia 11.05.1921, tendo sido padrinhos de Adolpho: Felipe Moro e Virgínia Mazzon; e de Alvina: Nicolau Preis e Amália Arns. Em 16.05.1921, realizou-se o batismno de Salvato Tiscoski (filho de Adolpho) nascido em 1898. Foi padrinho Geraldo Westrup.” (5)

  A família de Adolpho e Alvina confessara a religião evangélica luterana até adotar a fé católica apostólica romana. (6) Também houve casamentos. No dia 12.05.1921, aconteceu uma das celebrações de casamento mais lembrada da colônia: o casamento dos dois professores de Forquilhinha, Jacob Arns com Maria Arns, e Adolfo Back com Adélia Arns.

  Em 1924, a comissão organizadora comprou três sinos, artisticamente fabricados por uma casa de fundição, na localidade de Bochum, em Alemanha. Os sinos, de maior a menor, receberam o nome de Jesus, Maria e José, respetivamente.